terça-feira, 8 de novembro de 2016

A MP do ensino médio não vinga porque os estudantes de Palmeira souberam prever seus efeitos nocivos

Em alguns poucos dias muitas convicções foram abaladas em Palmeira. E há provas disso, por sinal, provas bastante robustas. Não bastassem as manifestações na rua contra a Medida Provisória (MP) 746 e, de arrasto, contra a então Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 – hoje no Senado Federal como PEC 55, os estudantes conseguiram prever as consequências nocivas tanto da MP quanto da PEC para o seu futuro e também para o futuro do Brasil. E há quem ainda duvide da capacidade de análise dos jovens de 13, 14 ou 16 anos. Eles têm, sim, e muita. Conversei com alguns deles na ocupação do CEDAG e formei convicção pessoal, com base nessas trocas de experiências e conhecimentos – coisa que tem faltado a muitos professores. Muitos daqueles que estiveram protagonizando os protestos e ações, aqui mesmo em Palmeira, conseguem avaliar situações com mais clareza e profundidade do que muitos daqueles que os classificam como ‘baderneiros’. O problema está no fato de os adultos com mais de 40 anos – e outros com menos também – acreditarem que os adolescentes e jovens de hoje têm a mesma capacidade intelectual que eles tinham com a mesma idade. Que ideia furada!

Com acesso praticamente ilimitado às informações através das tecnologias disponíveis, os adolescentes e jovens conseguem ampliar sua linha de pensamento e raciocínio infinitas vezes mais do que ‘naquele tempo’ tão citado pelos indignados com as ações da juventude ‘de hoje’. Pra começar, ‘naquele tempo’ a ditadura não permitia tais arroubos, não permitia sequer que houvesse oposição às suas imposições. Ponto. Porém, lá no fundo do seu coração juvenil, inquieto e rebelde, quantos dos jovens ‘daquele tempo’ sufocavam vontades, entre as quais a de se rebelar contra a ditadura? Verdade, pois ‘naquele tempo’ pairava no ar a ameaçadora mão pesada de um regime que não permitia contraditório. E ai de quem faltasse às aulas de Educação Moral e Cívica e de Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Conteúdo ditado pelo governo, imexível. Pau era pau e pedra era pedra. Contestações? Imediatamente eram colocadas para fola da sala de aula, diretamente enviadas para o gabinete do diretor, onde na presença do pai era submetida a uma dura lição. Quantas vezes!
Felizmente, como comentei com alguns dos estudantes que ocuparam o CEDAG, encontrei nos livros algumas respostas e no então segundo grau – hoje ensino médio – nas palavras de professores que toleravam alguma abertura nos conteúdos. Inquieto, indignado, contestador e aceitando desafios para aprender mais e mais sobre o mundo e a humanidade fiz faculdade e consegui olhar para bem além de onde a maioria perde a visão. Conhecer melhor é entender melhor como as coisas funcionam e, principalmente, como são aplicados e praticados os interesses dos que dominam sobre os que são dominados.
Então, no mesmo caminho que segui, agora com informações ampliadas, os estudantes de Palmeira praticaram sua posição contra a MP que pretende tempo integral em escolas sem condições para isto e que desobriga a oferta de disciplinas como Educação Física, Artes, Filosofia e Sociologia, fundamentais para a formação do corpo, da mente e da alma. Eles também protestaram contra a PEC, que intenciona reter ao nível da inflação do ano anterior os investimentos em educação, saúde, assistência social, mobilidade, etc. por longos 20 anos. O que querem os estudantes? Ensino humano e não apenas técnico para formar exércitos de robôs trabalhadores. Querem escolas públicas com melhores condições de ensino e aprendizagem, modernas e equipadas com tecnologias atualizadas. Ainda, que os governos invistam sempre mais em educação e saúde e que os professores sejam valorizados. É o que ouvi deles nas conversas, assim, franca e direta. Impressiona a consciência dessa juventude e o senso de cidadania, além da preocupação com o futuro. Estão a anos-luz daquele estudante que fui no mesmo colégio nos anos de chumbo (1974 a 1977). O governo Temer quer fazer uma ponte para o passado e voltar ao modelo autoritário de ensino, no qual ao aluno só cabe obedecer, não pode falar nem pensar. E nós, em qual tempo queremos a expectativa de futuro para o nosso país? No passado?


Um comentário:

  1. O problema está no fato de os adultos com mais de 40 anos – e outros com menos também – acreditarem que os adolescentes e jovens de hoje têm a mesma capacidade intelectual que eles tinham com a mesma idade. Que ideia furada!


    Adultos com mais de 40 anos outros com menos ... não seriam os que não concordam com as invasões?


    Com acesso praticamente ilimitado às informações através das tecnologias disponíveis, os adolescentes e jovens conseguem ampliar sua linha de pensamento e raciocínio infinitas vezes mais do que ‘naquele tempo’ tão citado pelos indignados com as ações da juventude ‘de hoje’.


    Com esse mesmo acesso ilimitado aqueles que tem mais de 40 anos ou menos, conseguem da mesma forma ampliar sua linha de raciocínio, conhecimento, e ainda tem a vantagem da experiência, da vivência e consequentemente usar de comparações e de lógica. Coisa que o jovem está em desvantagem.


    Pra começar, ‘naquele tempo’ a ditadura não permitia tais arroubos, não permitia sequer que houvesse oposição às suas imposições. Ponto. Porém, lá no fundo do seu coração juvenil, inquieto e rebelde, quantos dos jovens ‘daquele tempo’ sufocavam vontades, entre as quais a de se rebelar contra a ditadura? Verdade, pois ‘naquele tempo’ pairava no ar a ameaçadora mão pesada de um regime que não permitia contraditório.


    E aí eu pergunto: Se a ditadura não permitia arroubos, sufocava vontades e verdades ... como é que “alguns” com mais de 40 anos tornaram-se porta voz da verdade, vestiram capas de heróis, heroínas defensores da democracia? Pois se tudo era oculto pela falta de tecnologias e pela censura, então alguém está faltando com a verdade.

    E ai de quem faltasse às aulas de Educação Moral e Cívica e de Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Conteúdo ditado pelo governo, imexível. Pau era pau e pedra era pedra. Contestações? Imediatamente eram colocadas para fola da sala de aula, diretamente enviadas para o gabinete do diretor, onde na presença do pai era submetida a uma dura lição. Quantas vezes!



    Conhecer melhor é entender melhor como as coisas funcionam e, principalmente, como são aplicados e praticados os interesses dos que dominam sobre os que são dominados.

    Conhecer melhor é entender melhor e para entender melhor é preciso analisar os fatos históricos, diários, pois o dia a dia também é história, nós estamos construindo a história no dia a dia. É preciso ver quem domina, como domina, quem ilude, como ilude.
    Li uma carta de um professor da UFC, a história contada é bem diferente. E pela forma como vemos a reação dos que são favoráveis as invasões, é possível fazer uma avaliação baseada na lógica e no bom senso. Ditadura? Reprimir a expressão de pontos de vista com palavras de baixo calão, com assédio, com intimidação é típico da ditadura. É preciso aprender a pensar. Sempre. Decorar e repetir palavras não é pensar.
    Com todo o meu respeito, espero não ter sido grosseira com a sua pessoa Srº Rogério Lima.

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