No dia 17 de abril,
quando a Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade do processo de
impeachment contra a presidente Dilma Roussef, o médico e escritor Drauzio
Varella manifestou-se assim: "E pensar que
aqueles homens brancos enfatuados, com gravatas de mau gosto, os cabelos
pintados de acaju e asa de graúna, com a prosperidade a transbordar-lhes por
cima do cinto, passaram pelo crivo de 90 milhões de eleitores que os escolheram
para representá-los. Para aqueles que não viveram como nós as trevas da
ditadura, manter a crença na democracia brasileira chega a ser um ato de
fé". Atrai a atenção na fala do renomado médico o trecho “homens brancos
enfatuados”, que é uma menção direta aos excelentíssimos deputados de cor
branca e barrigudos, que compõem a maioria do Legislativo visto sob o aspecto
forma física. Sim, são os homens que se preocupam mais com o crescimento de
suas contas bancária (na Suiça e outros paraísos fiscais) do que com o
crescimento do país e não estão nem aí para o aumento desproporcional de seus abdomens.
Mas quem vota em gente assim? Homens do mesmo naipe e de outros perfis e
mulheres, muitas mulheres. Mulheres que não votam em mulheres. Por quê? Porque
a absoluta maioria das mulheres não gosta de votar em mulher. Por isso, os “homens
brancos enfatuados” que o Dr. Drauzio cita e critica estão lá, a conduzir o
Brasil para um abismo de desigualdades, de injustiças e tragédias. E as
mulheres que não votam em mulheres dão seu aval a eles. Há, porém possibilidade
para mudar, mas nada tão urgente. No curto prazo. Na realidade de Palmeira, por
exemplo, as mulheres deveriam ocupar, de direito, pelo menos 30% das vagas nas
chapas de candidatos a vereador e 50% das vagas, de fato. Na lista de
candidatura, estão lá, todas elas, mas boa parte apenas fazendo número. Não são
candidatas pra valer, com vontade e motivação para disputar a eleição e conquistar
no voto o seu lugar na Câmara Municipal.
Nem tudo está perdido
para as mulheres, no entanto, pois figuram nas chapas de candidatos a vereador
algumas abnegadas, guerreiras e esperançosas candidatas. São elas que trabalham
suas campanhas no dia a dia em busca dos votos, miram as centenas de votos que
precisarão conquistar para atingir seus objetivos e vão à luta, dia a dia, até
1º de outubro. No sábado, em uma caminhada de candidatos pelas ruas centrais da
cidade, havia mulheres candidatas presentes, lado a lado som seus pares do sexo
masculino. Mulheres valorosas, infladas pelos ares democráticos e embaladas
pela suave música da vitória possível. Esperançosas candidatas que pretendem
tornar realidade na política aquilo que é realidade cotidiana de suas presenças
em casa, nas ruas, nas fábricas, nas repartições públicas e muito mais nas
escolas, nos hospitais e nas artes.
Nos versos democraticamente
universais do inigualável poeta norte-americano Walt Whitman (1819-1892),
recorto um trecho do ‘Canto do Machado Grande’: “...onde nas ruas andam as
mulheres / em movimentos públicos / igualadas aos homens, / onde elas formam na
assembleia popular / e ali têm seus lugares / como os dos homens / onde fica a
cidade dos mais leais amigos, / onde fica a cidade da pureza dos sexos, / onde
fica a cidade dos mais sadios pais, / onde fica a cidade das mães de corpos
mais belos: / é aí que cresce a grande cidade”.
Há, então uma
esperança de que um dia os legislativos, em todos os níveis, sejam formados tal
qual o perfil da sociedade brasileira: metade homens e metade mulheres. Que
também estejam lá os negros em sua representação proporcional, os pobres da
mesma forma, os assalariados idem e por aí vai, cada qual ocupando o que lhe é
de direito. Ah, sem esquecer as vagas proporcionais aos brancos ricos e
barrigudos. Está longe este dia, sim, mas há uma esperança naqueles e naquelas
que lutam para que isto aconteça. E é aí, seguindo o pensamento do poeta
norte-americano, que vai crescer a grande cidade que sonhamos ter, a grande
cidade que queremos viver.
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