segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Quantas mulheres as mulheres de Palmeira elegerão em 2 de outubro para a Câmara Municipal?

No dia 17 de abril, quando a Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Roussef, o médico e escritor Drauzio Varella manifestou-se assim: "E pensar que aqueles homens brancos enfatuados, com gravatas de mau gosto, os cabelos pintados de acaju e asa de graúna, com a prosperidade a transbordar-lhes por cima do cinto, passaram pelo crivo de 90 milhões de eleitores que os escolheram para representá-los. Para aqueles que não viveram como nós as trevas da ditadura, manter a crença na democracia brasileira chega a ser um ato de fé". Atrai a atenção na fala do renomado médico o trecho “homens brancos enfatuados”, que é uma menção direta aos excelentíssimos deputados de cor branca e barrigudos, que compõem a maioria do Legislativo visto sob o aspecto forma física. Sim, são os homens que se preocupam mais com o crescimento de suas contas bancária (na Suiça e outros paraísos fiscais) do que com o crescimento do país e não estão nem aí para o aumento desproporcional de seus abdomens. Mas quem vota em gente assim? Homens do mesmo naipe e de outros perfis e mulheres, muitas mulheres. Mulheres que não votam em mulheres. Por quê? Porque a absoluta maioria das mulheres não gosta de votar em mulher. Por isso, os “homens brancos enfatuados” que o Dr. Drauzio cita e critica estão lá, a conduzir o Brasil para um abismo de desigualdades, de injustiças e tragédias. E as mulheres que não votam em mulheres dão seu aval a eles. Há, porém possibilidade para mudar, mas nada tão urgente. No curto prazo. Na realidade de Palmeira, por exemplo, as mulheres deveriam ocupar, de direito, pelo menos 30% das vagas nas chapas de candidatos a vereador e 50% das vagas, de fato. Na lista de candidatura, estão lá, todas elas, mas boa parte apenas fazendo número. Não são candidatas pra valer, com vontade e motivação para disputar a eleição e conquistar no voto o seu lugar na Câmara Municipal.

Nem tudo está perdido para as mulheres, no entanto, pois figuram nas chapas de candidatos a vereador algumas abnegadas, guerreiras e esperançosas candidatas. São elas que trabalham suas campanhas no dia a dia em busca dos votos, miram as centenas de votos que precisarão conquistar para atingir seus objetivos e vão à luta, dia a dia, até 1º de outubro. No sábado, em uma caminhada de candidatos pelas ruas centrais da cidade, havia mulheres candidatas presentes, lado a lado som seus pares do sexo masculino. Mulheres valorosas, infladas pelos ares democráticos e embaladas pela suave música da vitória possível. Esperançosas candidatas que pretendem tornar realidade na política aquilo que é realidade cotidiana de suas presenças em casa, nas ruas, nas fábricas, nas repartições públicas e muito mais nas escolas, nos hospitais e nas artes.
Nos versos democraticamente universais do inigualável poeta norte-americano Walt Whitman (1819-1892), recorto um trecho do ‘Canto do Machado Grande’: “...onde nas ruas andam as mulheres / em movimentos públicos / igualadas aos homens, / onde elas formam na assembleia popular / e ali têm seus lugares / como os dos homens / onde fica a cidade dos mais leais amigos, / onde fica a cidade da pureza dos sexos, / onde fica a cidade dos mais sadios pais, / onde fica a cidade das mães de corpos mais belos: / é aí que cresce a grande cidade”.
Há, então uma esperança de que um dia os legislativos, em todos os níveis, sejam formados tal qual o perfil da sociedade brasileira: metade homens e metade mulheres. Que também estejam lá os negros em sua representação proporcional, os pobres da mesma forma, os assalariados idem e por aí vai, cada qual ocupando o que lhe é de direito. Ah, sem esquecer as vagas proporcionais aos brancos ricos e barrigudos. Está longe este dia, sim, mas há uma esperança naqueles e naquelas que lutam para que isto aconteça. E é aí, seguindo o pensamento do poeta norte-americano, que vai crescer a grande cidade que sonhamos ter, a grande cidade que queremos viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário