terça-feira, 21 de junho de 2016

Casa construída por anarquista em Santa Bárbara é exemplo da arquitetura em madeira no Paraná

Nascido na Itália, em Torricela, no dia 12 de maio de 1882, Andrea Giuseppe Agottani, o Pimpão, é um dos personagens emblemáticos da Colônia Cecília, a experiência de comunidade anarquista que aconteceu em Palmeira, entre 1890 e 1894. Ainda criança, ele foi testemunha dos acontecimentos marcantes da experiência vivida por imigrantes italianos, absorvendo o gosto pelos debates e a crença no anarquismo como regime social ideal. Pimpão deixou muitas marcas de sua atuação política, como participantes de movimentos que culminaram na grande greve geral de trabalhadores de 1917, que começou em São Paulo e rapidamente espalhou-se por outros estados brasileiros. Também deixou marcas físicas de seu ofício, a carpintaria, como até hoje exibe a casa de madeira localizada às margens da estrada entre as localidades de Santa Bárbara e Santa Bárbara de Baixo, no interior do município de Palmeira. A belíssima edificação erguida por ele é um símbolo da construção em madeira no Paraná, com esmerados acabamentos, incluindo uma escada interna totalmente atípica na região, confeccionada em imbuia com técnicas de carpintaria que aprendera na Europa. A construção aparece no livro “Paraná de madeira”, de Nego Miranda e Maria Cristina Wolff de Carvalho, com fotos de casas construídas em madeira em diversos pontos do estado.

A história da casa construída por Pimpão é peculiar e demonstra o forte vínculo que unia o ativista social à sua família, da qual foi o único a deixar Palmeira. Quando retornou ao Brasil, em 1934, após quase 14 anos de exílio na Europa, por conta de sua atividade política, associou-se ao irmão Aldino e instalaram uma serraria na localidade de Rio das Pedras, próximo a Santa Bárbara, em área de Cristiano Schulli. Com a madeira beneficiada na serraria, especialmente a imbuia, construiu uma ampla casa que havia prometido ao irmão mais novo, Arnaldo, casado com Crimene Artusi. Hoje. Quase 80 anos depois de edificada, a casa continua a ostentar sua arquitetura diferenciada, chamando a atenção o seu formato em L, os solares altos nas janelas, a sacada frontal no andar superior e a varanda também em L, com ornamentos que remetem aos lambrequins típicos das construções eslavas, embora seja de nítida inspiração francesa.
Vivendo em Paris, a partir de 1917, quando foi exilado, Pimpão trabalhou como construtor. Autodidata, adquiriu livros e manuais para se aperfeiçoar na arte da construção em pedra e madeira. Tornou-se requisitado para diversas obras na capital francesa. O trabalho garantia a ele condições de frequentar eventos anarquistas na França, na Espanha, na Itália e na Bélgica. A polícia política italiana o mantinha sob constante vigilância, tanto que, segundo relata o médico Cândido de Mello Neto em seu livro “O anarquismo experimental de Giovanni Rossi”, no Archivio Centrale dello Stato, em Roma, um grosso volume guarda as anotações feitas pelos agentes que acompanharam os movimentos do anarquista pela Europa.
Quando regressou ao Brasil, além da serraria e da construção da casa para o irmão Arnaldo, Pimpão atuou como comerciante. Era proprietário de uma bodega, estabelecimento que vendia variados produtos, em Santa Bárbara, que comprou de José Benedito Schulli, localizada em frente à Igreja do lugar. Construiu ele próprio uma nova sede para o estabelecimento, em madeira, com dois pavimentos. A residência era na parte superior. Em outra construção de madeira, ao lado da bodega, também com dois pavimentos, na parte de baixo eram armazenados cereais e madeira serrada e no piso superior funcionava um salão de bailes, constantemente animado nas noites de sábado e tardes de domingo, com música ao vivo. Era uma construção com dimensões de 14 metros de comprimento por 12 metros de largura, com 168 metros quadrados de área em cada pavimento.
Pimpão morreu em 8 de novembro de 1944, aos 62 anos. Contemporâneos do anarquista relataram que suas atividades comerciais em Santa Bárbara colaboraram decisivamente para o desenvolvimento do lugar. Na época, inclusive, havia proposta de desmembramento da região do município de Palmeira para a criação de um novo município. O anarquista proporcionou conhecimento e cultura a muita gente com seus depoimentos e explanações, não só sobre o anarquismo, mas também sobre os fatos históricos que conheceu e vivenciou e os lugares do mundo por onde passou e viveu.

3 comentários:

  1. Minha avó nasceu em 1917 ali em Santa Barbara... viveu e casou em palmeira, trabalhou no correio com meu avô o qual era do mesmo responsável! Ela falava um pouco de polonês, sabia o código morse e tinha uma memória inacreditável... ela se foi no natal deste ano 2019 com 102 anos. Vanda graczyk vida... minha eterna polonesa!

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  2. Essa casa e linda ,era dos meus bono.

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