Um caminhão-pipa molhava a rua
Conceição e o entorno da praça Mal. Floriano Peixoto, sem asfalto e sem
calçamento, nos dias mais quentes do ano, para tentar acalmar a poeira que
insistia em sujar as fachadas e o interior dos estabelecimentos comerciais e
das residências da principal via da cidade. Era o começo dos anos 1970, quase
40 anos atrás, quando cenas inusitadas para os dias de hoje faziam parte do
cotidiano de uma Palmeira que se perde no tempo. Onde hoje pisamos nas calçadas
de petit-pave, com suas ondulações em
preto e branco, existia uma pavimentação com grandes pedras retangulares de
arenito. Um desfile de uniformes brim cáqui tomava as ruas nos horários de
entrada e de saída das aulas do Colégio Estadual Dom Alberto Gonçalves. Nos
campinhos de futebol que se espalhavam por toda a cidade, a piazada jogava bola
por horas intermináveis. São algumas das lembranças da cidade que existiu e
que, hoje, experimenta ares de modernidade inimaginável, não só há 40 anos, mas
há 20, por exemplo.
Tenho sido surpreendido, assim
como tantos outros moradores da cidade, por pessoas que não conheço, mas que
moram na mesma cidade que nós. Ora, estamos deixando de conhecer nossos
vizinhos? Um tanto sim e um tanto não. O que era comum há algum tempo, agora
virou detalhe, sendo até dispensável. Nossas relações sociais estão
transformadas em meras formalidades, que dispensam-nos de algumas informações
mais aprofundadas. Já não é preciso conhecer quem são as pessoas que vivem na
mesma rua, no mesmo bairro ou na mesma cidade. Hoje existem comunidades de
relacionamento virtual que tomaram o lugar das rodas de conversa em clubes,
bares e restaurantes, ou dos chás que as mulheres promoviam para encontrar as
amigas e colocar o assunto em dia. Agora, tudo é virtual. Virtual, também, é o
tempo que dispomos, pois com o auxílio da tecnologia já não precisamos ir até a
casa dos parentes e amigos. Eles vêm até nós nas telas do computador, do tablete
ou do smartphone. Coisa que via nos desenhos da TV, como ‘Os Jetsons’, e
imaginava jamais na vida presenciar acontecendo.
Quando escuto pessoas
surpreendidas pela quantidade de automóveis que entopem as ruas da cidade, fico
imaginando como isto vai ser daqui a cinco anos, dez anos... Não quero ir mais
longe, pois quando regresso 20 anos no tempo levo um choque de realidade. A
maneira que o tempo passa, que a tecnologia avança e que as pessoas têm acesso aos
meios modernos de vida – incluindo os automóveis – é que percebemos o quanto a
humanidade é capaz de evoluir. Mas é aqui que vejo a ruptura, preocupante,
entre isto que rotulamos de modernidade e o comportamento das pessoas. Óbvio é
que muitos valores são temporais, porém são voláteis à medida que a tecnologia
avança. Muitos acabam por se perder nas brumas do passado. O que era
considerado bom e útil, num determinado momento, agora nem é mais lembrado.
Basta que percebamos que o tempo
passa – voa e nem a Poupança Bamerindus ficou numa boa – para mergulharmos em
recordações daquilo que nos parece tão próximo. Isto é recorrente. Não se é
devido à idade ou se a noção de passagem do tempo está em aceleração gradativa.
Basta rir quando pego nas mãos o primeiro telefone celular que tive, de 1999, e
que ganhou a alcunha de “tijolão”. Já não serve para nada a novidade
tecnológica de 15 anos atrás. Vidente, Cazuza antecipou este “museu de grandes
novidades” em sua música. Ainda sinto a rigidez das balas “Quebra-queixo”
compradas na Panificadora Estrela, do Wille, e o gosto do Crush que tomei no
Bar do Garcia. Foi há pouco e já nem existem. Como as atitudes respeitosas aos
pais, aos professores e aos mais velhos, como a paz nas ruas pacatas de uma
Palmeira que está ficando moderna. Tenho um pé lá e outro aqui. E parece que nem
sei ao certo onde estou.
Memória, memória.... é o que fica e tão logo também se vai.
ResponderExcluiro pior amigo ROGERIO é quando eu conto que nadei no RIO TIETÊ embaicho da ponte das BANDEIRAS em São Paulo CHAMÃO ME de mentiroso preciso mostra foto isso foi em 1944 a 48 ai começou a sujar
ResponderExcluirSaudades Amigo Rogério...Saudades!!!!
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