quinta-feira, 5 de maio de 2016

Com um olhar para o passado vemos o tempo perdido em velhas novidades

Um caminhão-pipa molhava a rua Conceição e o entorno da praça Mal. Floriano Peixoto, sem asfalto e sem calçamento, nos dias mais quentes do ano, para tentar acalmar a poeira que insistia em sujar as fachadas e o interior dos estabelecimentos comerciais e das residências da principal via da cidade. Era o começo dos anos 1970, quase 40 anos atrás, quando cenas inusitadas para os dias de hoje faziam parte do cotidiano de uma Palmeira que se perde no tempo. Onde hoje pisamos nas calçadas de petit-pave, com suas ondulações em preto e branco, existia uma pavimentação com grandes pedras retangulares de arenito. Um desfile de uniformes brim cáqui tomava as ruas nos horários de entrada e de saída das aulas do Colégio Estadual Dom Alberto Gonçalves. Nos campinhos de futebol que se espalhavam por toda a cidade, a piazada jogava bola por horas intermináveis. São algumas das lembranças da cidade que existiu e que, hoje, experimenta ares de modernidade inimaginável, não só há 40 anos, mas há 20, por exemplo.

Tenho sido surpreendido, assim como tantos outros moradores da cidade, por pessoas que não conheço, mas que moram na mesma cidade que nós. Ora, estamos deixando de conhecer nossos vizinhos? Um tanto sim e um tanto não. O que era comum há algum tempo, agora virou detalhe, sendo até dispensável. Nossas relações sociais estão transformadas em meras formalidades, que dispensam-nos de algumas informações mais aprofundadas. Já não é preciso conhecer quem são as pessoas que vivem na mesma rua, no mesmo bairro ou na mesma cidade. Hoje existem comunidades de relacionamento virtual que tomaram o lugar das rodas de conversa em clubes, bares e restaurantes, ou dos chás que as mulheres promoviam para encontrar as amigas e colocar o assunto em dia. Agora, tudo é virtual. Virtual, também, é o tempo que dispomos, pois com o auxílio da tecnologia já não precisamos ir até a casa dos parentes e amigos. Eles vêm até nós nas telas do computador, do tablete ou do smartphone. Coisa que via nos desenhos da TV, como ‘Os Jetsons’, e imaginava jamais na vida presenciar acontecendo.
Quando escuto pessoas surpreendidas pela quantidade de automóveis que entopem as ruas da cidade, fico imaginando como isto vai ser daqui a cinco anos, dez anos... Não quero ir mais longe, pois quando regresso 20 anos no tempo levo um choque de realidade. A maneira que o tempo passa, que a tecnologia avança e que as pessoas têm acesso aos meios modernos de vida – incluindo os automóveis – é que percebemos o quanto a humanidade é capaz de evoluir. Mas é aqui que vejo a ruptura, preocupante, entre isto que rotulamos de modernidade e o comportamento das pessoas. Óbvio é que muitos valores são temporais, porém são voláteis à medida que a tecnologia avança. Muitos acabam por se perder nas brumas do passado. O que era considerado bom e útil, num determinado momento, agora nem é mais lembrado.
Basta que percebamos que o tempo passa – voa e nem a Poupança Bamerindus ficou numa boa – para mergulharmos em recordações daquilo que nos parece tão próximo. Isto é recorrente. Não se é devido à idade ou se a noção de passagem do tempo está em aceleração gradativa. Basta rir quando pego nas mãos o primeiro telefone celular que tive, de 1999, e que ganhou a alcunha de “tijolão”. Já não serve para nada a novidade tecnológica de 15 anos atrás. Vidente, Cazuza antecipou este “museu de grandes novidades” em sua música. Ainda sinto a rigidez das balas “Quebra-queixo” compradas na Panificadora Estrela, do Wille, e o gosto do Crush que tomei no Bar do Garcia. Foi há pouco e já nem existem. Como as atitudes respeitosas aos pais, aos professores e aos mais velhos, como a paz nas ruas pacatas de uma Palmeira que está ficando moderna. Tenho um pé lá e outro aqui. E parece que nem sei ao certo onde estou.

3 comentários:

  1. Memória, memória.... é o que fica e tão logo também se vai.

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  2. o pior amigo ROGERIO é quando eu conto que nadei no RIO TIETÊ embaicho da ponte das BANDEIRAS em São Paulo CHAMÃO ME de mentiroso preciso mostra foto isso foi em 1944 a 48 ai começou a sujar

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  3. Saudades Amigo Rogério...Saudades!!!!

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