sábado, 7 de maio de 2016

Exemplares do patrimônio edificado de Palmeira inscritos no Livro Tombo do Estado

Antes mesmo da data oficial de sua fundação, 7 de abril de 1819, Palmeira já era um pequeno povoado às margens do histórico Caminho das Tropas, a via terrestre que fazia a ligação de Viamão, no Rio Grande do Sul, com Sorocaba, em São Paulo, e por onde eram conduzidas as tropas de muares para as feiras de animais que vendiam para outros pontos do Brasil da época, especialmente Minas Gerais, então vivendo o auge da exploração mineral. O povoado cresceu, virou freguesia, e a instalação da Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi o impulso para que ganhasse ares urbanos e chegasse ao ponto de ser uma das principais cidades do interior do Paraná. Passados 197 anos da fundação, a cidade ainda exibe alguns exemplares da arquitetura do século 19, fortemente influenciada pelo estilo português, sobretudo nos casarões e nos templos religiosos, como são os casos do Solar do Conselheiro Jesuíno Marcondes, construído em 1880, e da Igreja Matriz, cuja primeira parte foi concluída em 1837. Alguns estão inscritos no Livro Tombo do Estado do Paraná como patrimônio cultural, portanto protegidos por lei. Mas, na prática, não é bem assim.

O Solar de Jesuíno Marcondes foi o primeiro bem imóvel edificado a ser inscrito no Livro Tombo Estado do Paraná, no ano de 1970, sob a justificativa, principalmente, da importância de seu proprietário, Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, na vida pública. Ele foi presidente da Província do Paraná e Ministro da Agricultura durante o governo imperial. O solar hospedou, em 1880, o imperador D. Pedro II, quando de sua histórica passagem por Palmeira.

A partir da instalação dos portugueses, ainda no tempo do Império, a colaboração dos imigrantes europeus para a colonização do território da região Centro Sul do Paraná foi bastante marcante. Poloneses, alemães do Volga (Rússia), italianos, franceses, russos e alemães desbravaram as matas de araucária da região, exploraram os campos nativos que transformaram em pasto para os animais e em lavouras de trigo, cevada e centeio e influenciaram os usos e costumes com marcas que até hoje são facilmente encontradas nas cidades e no campo. Na área urbana, a presença de imigrantes sírio-libaneses e descendentes teve forte influência no comércio.

Por obra e arte da cantaria, dominada pelos imigrantes alemães que vieram da região do rio Volga, na Rússia, nos anos 1870, foi construída uma ponte de pedra sobre o rio dos Papagaios, na estrada velha que ligava Palmeira a Curitiba. A construção se deu em virtude da visita do imperador D. Pedro II ao Paraná, que pernoitou em Palmeira de passagem para Ponta Grossa e Castro. O projeto foi feito pelo engenheiro Francisco Monteiro Tourinho e a execução da obra coube quase que exclusivamente aos imigrantes. A ponte foi inscrita no Livro Tombo do Estado do Paraná em 1973.

Uma das mais recentes colonizações do município, Witmarsum é uma colônia de alemães de religião menonita, instalada em 1951. A tradição e os costumes deste povo levaram ao primeiro registro de tombamento de um bem edificado do município de Palmeira no Livro Tombo do Estado em Paraná, no ano de 1989. A casa sede da Fazenda Cancela, que hoje abriga o Museu Histórico de Witmarsum, guarda objetos, utensílios, vestes e documentos dos pioneiros.

Porém, existem construções que vão além do casario e das igrejas e um destes exemplos é a arquibancada de madeira do Estádio João Chede, propriedade do Ypiranga Futebol Clube, edificada em 1922, o bem foi inscrito no livro tombo do Estado do Paraná, em 1990. No estilo das arquibancadas dos estádios ingleses do início do século 20, o pavilhão tem cobertura de quatro águas, erguida sobre montantes trabalhados e é adornada por lambrequins de madeira.

Bem tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado do Paraná em 1991, a Capela de Nossa Senhora das Pedras, edificado em 1860 à beira da escarpa devoniana que separa o 1º do 2º Planalto Paranaense, é um exemplo do apego religioso dos portugueses. Foi mandada construir em agradecimento por Domingos Ferreira Pinto, o Barão de Guaraúna, após um acidente sofrido por seu filho, que conduzia uma tropa de mulas pela região e sofreu um acidente no local e, por pouco, não despencou do paredão de pedras de muitos metros de altura.

No ano de 2004, diante de solicitações de instituições culturais de Palmeira, mais três imóveis foram inscritos no Livro Tombo do Estado do Paraná. O prédio originariamente construído para servir como escola, em 1906, nos fundo da Igreja Matriz, que hoje abriga o polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB); uma casa de construção mista na Rua Tenente Max Wolf Filho, edificada em 1923; e a casa na localidade de Mandaçaia que pertenceu ao herói da Guerra do Paraguai, Manoel Demétrio de Oliveira, responsável por ter salvado a vida de Duque de Caxias durante uma das batalhas do conflito. Os dois últimos, infelizmente, em situação degradante. O primeiro em curso de desabamento e o segundo completamente destruído.

Outros exemplares do patrimônio edificado de Palmeira poderiam estar inscritos no Livro Tombo do Estado do Paraná. Um deles é a Igreja Matriz. Entretanto, a falta de critérios técnicos quando de suas reformas acabou por descaracterizar o templo, mas ela não deixa de exibir a sua imponência e beleza de quase 180 anos encravada num promontório da Praça Marechal Floriano Peixoto. No entorno da praça, outras construções seculares, como a atual sede do Clube Palmeirense, construída em 1866, conferem ao centro histórico da cidade um ar de preservação cultural do patrimônio edificado que poucas cidades mantêm. Porém, muitos imóveis já foram demolidos, empobrecendo a memória do patrimônio edificado de Palmeira.

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