quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nélson Justus teve votos, não retribuiu e protagonizou episódios obscuros em Palmeira

Acusado pelo Ministério Público (MP) de comandar um esquema de desvios de recursos na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Nélson Justus, do DEM, está sendo julgado pelo Tribunal de Justiça do Paraná. O MP afirma que ele utilizava o expediente de nomear funcionários fantasmas para ficar com o dinheiro dos supostos pagamentos de salários dos supostos funcionários. A sessão de julgamento começou na segunda-feira (2), mas foi suspensa pelos desembargadores do Órgão Especial do TJ, sem que fosse analisada a proposta de ação penal contra o deputado. Aanálise do caso está prevista para ser reiniciada no próximo dia 16. Até lá, há tempo para relembrar algumas situações sobre as relações de Justus com políticos e fatos ocorridos em Palmeira que tiveram sua participação. As relações não muito ortodoxas dele, seja como deputado ou na função de secretário de Estado, com a política de Palmeira são marcadas pelo lado obscuro. Alguns episódios beiram o non sense e suscitam questionamentos. Desde os anos 1990, Justus tem sido figurinha freqüente no álbum dos acontecimentos políticos locais. Os mais curiosos, que presenciei e dos quais fui informado, merecem ser destacados. Outros...

Quando se candidatou a deputado estadual pela primeira vez, em 1990, Nélson Justus pintou em Palmeira conduzido pelas mãos do ex-prefeito Baptista Cherobim. Na ocasião, ele ocupava a direção da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) e acenava, como forma de propaganda de seu poder, com a possibilidade de construção de um núcleo de habitações populares em Palmeira. Foi aí que a Prefeitura fez a aquisição do terreno onde hoje está o núcleo do Rocio 2, construído na sequência com recursos do governo federal intermediado pela Cohapar. Porém, vale lembrar que a construção das casas sofreu questionamentos devido aos custos. Porém...
Naquela época, fui contatado pelo ex-deputado estadual Lineu Mansani Turra, que também foi diretor da Cohapar e teve uma convivência não muita amistosa com Justus na empresa estatal. Contou-me ele que o desafeto havia sido banido do Paraguai quando de destituição do ditador Alfredo Stroessner, que governou sob mão de ferro o país vizinho por 35 anos. Turra afirmava que Justus prestava serviços ao ditador, atuando nos bastidores do poder. Era a palavra de um ex-deputado estadual que conheceu de perto o atual e polêmico deputado estadual, agora ré em uma ação judicial.
Já deputado estadual, em 1995 Justus assumiu a Secretaria de Estado da Indústria e Comércio, nomeado pelo então governador Jaime Lerner. Foi neste período que a Prefeitura de Palmeira adquiriu a área da empresa Indústrias Reunidas Emílio Malucelli S/A (IREM S/A). O valor estimado para a transação foi de R$ 1 milhão 650 mil. O objetivo da administração municipal, que tinha Altamir Sanson no comando, era instalar no local um centro empresarial. A Prefeitura pagou a ‘parte que lhe cabia’, de R$ 600 mil. O R$ 1 milhão e 50 mil restantes deveriam ser pagos pelo Governo do Paraná, graças a um suposto acordo feito entre Justus, Prefeitura e a empresa. Porém, nunca apareceu um documento assinado que responsabilizasse o Estado a pagar tal ‘diferença’. Oficialmente, o valor nunca foi pago e a IREM, possivelmente, deve ter ficado com o ‘mico’.
Em 1998, foi a vez do ex-prefeito Mussoline Mansani render-se ao ‘canto da sereia’ de Justus. De uma hora para outra, após firmar compromisso em apoiar um candidato local a deputado estadual, o ex-prefeito abençoa a candidatura de Justus à reeleição para a Assembleia Legislativa. Os votos que levou de Palmeira, mais de 1.700, nunca foram retribuídos por ele. Por sinal, em 2000, durante a campanha eleitoral municipal, retribui a ajuda que recebeu de Mussoline, em forma de votos, no ano anterior. Deputado licenciado e secretário de Estado, frequentou as terras palmeirenses anunciando que poderia ajudar com uma solução para a crise financeira da Indústrias Francisco Cherobim & Filhos, que navegava em águas turbulentas. Encheu de esperanças os funcionários a empresa que já não recebiam salários com frequência e estavam à beira do desemprego. Conseguiu votos para o então prefeito candidato à reeleição, que reelegeu-se. Quanto à ajuda para a empresa...
Justus ainda fisgou mais eleitores incautos nas eleições seguintes, em 2002, 2006, 2010 e 2014. Sobre o retorno que deu para esses votos que levou de Palmeira, Justus não prestou contas para a população e muito menos para seus eleitores, alguns fiéis em todas essa eleições. Os votos foram, mas...
O caso pelo qual Justus é acusado veio à tona em 2010, mostrado pela série de reportagens Diários Secretos, produzida em parceria pela Gazeta do Povo e pela RPC. Não só mostrando as ações obscuras que ele cometeu quando presidiu a Assembleia, como também revelando que nomes de pessoas comuns de Palmeira, com seus respectivos números de documentos, foram utilizados para fraudar nomeações de funcionários fantasmas. Como se vê, além de votos, Justus levou também informações de Palmeira que foram úteis para as ações que realizou nas sombras, acobertadas por assessores e forjadas como verdades em publicações espúrias, os tais Diários Secretos, que tinham tiragens mínimas apenas para acobertar o crime praticado.
Como deputado, Justus tem direito a foro privilegiado e só pode ser alvo de uma ação penal se o Órgão Especial do TJ acreditar que a investigação feita pelos promotores do MP têm indícios de autoria e prova de materialidade dos crimes a ele atribuídos. Somente depois que houver a aceitação – se houver – é que será interrompido o prazo de prescrição, que o período em que se corre o risco de deixar um possível culpado sem punição porque a Justiça não foi ágil o suficiente para fazê-lo pagar pelos atos errados que cometeu.

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