Em tempos recentes, quando corriam muitos boatos e
poucos fatos sobre uma possível doação do Estádio Municipal para uma indústria
construir ampliações de suas instalações, fui indagado sobre rumores de que a
histórica arquibancada do Estádio João Chede estaria prestes a ser colocada
abaixo. Vem na informação um comentário sobre a posse de tal propriedade pelo
Ypiranga Futebol Clube. Confesso que já ouvi algo sobre o assunto há alguns
anos, mas não me atrevo a fazer comentários, pois não conheço detalhes nem
tampouco a veracidade das poucas informações. Sei que a arquibancada, em estilo
arquitetônico inglês do início do século 20 é um bem registrado no livro tombo
do patrimônio histórico do Estado do Paraná. Portanto, é um bem tombado,
oficialmente destinado à preservação. Assim, não pode ser tombada, no sentido
de levada ao chão, como insinuou meu mal informado informante.
Curioso, busquei na memória algum
arquivo remoto. Porém, acredito que foi deletado, não sei se intencional ou
acidentalmente. Encontrei alguns dados incompletos sobre uma partida de futebol
dos primórdios do estádio em questão. Recorri à imaginação para traçar linha
ficcionais sobre uma possível partida ali disputada.
Era um tempo em que um polaco grandão do
Pinheiral de Baixo inflava o peito para dizer que nenhuma bola passava por ele
jogando de goal keaper, um mulatinho
ligeiro fazia e acontecia, com dribles desconcertantes e passes precisos, atuando
como center half e um alemão grosso
de doer orgulhava-se de fazer gols de cabeça na posição de center forward.
Coincidentemente, a tal partida, naquele
tempo alcunhada como match, colocou frente
a frente o time do polaco contra o time do mulatinho e do alemão. Ao que tudo
indica, terminou em confusão generalizada. Por sinal, uma das maiores de todos
os tempos do futebol mundial. Os registros não revelam os nomes das equipes,
apenas que na etapa final, quando faltavam poucos minutos para o fim do prélio,
o placar marcava 3 a 3 e o mulatinho fazia o carnaval driblando adversários de
um lado para o outro quando foi violentamente atingido por um beque adversário,
conhecido como Machadão. Foul quase
frontal à grande área. Sem conter a dor, levantou-se gemendo, célere, viu que o
alemão sinalizava e, com precisão, colocou a bola na cabeça do avante
grandalhão, que só teve o trabalho para mandá-la para dentro da meta. Sem
exceção, todos os adversários correram para reclamar de sua excelência o
apitador a invalidação do gol. Porém, o referee,
um sujeito bigodudo com cara de poucos amigos, incontinenti, apontou para a
marca inicial de jogo, dando como válido o goal.
“Gol legal!”, diria o speaker Mário
Vianna – com dois enes – nos áureos tempos do rádio, nos anos 1950. E foi!
Após o desempate da peleja, não mais foi
possível apreciar o jogo de football,
entretanto, apenas e tão somente, um corre-corre e um chuta-chuta nunca antes
vistos na história do futebol. Sobrou voadora e rabo-de-arraia para todo mundo.
O goleiro polaco acertou com a mão espalmada – e que mão – a cara de um
adversário que se atreveu a cruzar em sua frente. O golpe fez o matuto voar lá
perto do tanque da A Madeireira. Mesmo o alemão autor do gol fugiu perseguido
por uma turba ensandecida de torcedores do team
adversário que o alcançou perto do Tiro de Guerra, atingindo-o na região glútea
por vários quicks e bicudões. “Parrem
de chutarrr meu punda”, implorava o germânico center forward em tom choroso.
O mulatinho que deu o passe para o gol,
veloz e sagaz como era, desapareceu em desabalada carreira pela estrada do Mato
Grosso após saltar como um gato e transpor, num único jump, os trilhos da estrada de ferro, nas proximidades da Estação
Ferroviária. Dizem que nunca mais foi visto na cidade, pois teria ficado
embrenhado no mato do Pugas por anos e anos, tomando para si a culpa pelos
terríveis acontecimentos daquele domingo de pouco futebol e muita fuzarca,
quando, literalmente “correu a ripa’.
A ficção ganha vida com o futebol e
todas as suas histórias e lendas. Dado a riqueza cultural do nobre esporte
bretão e o fato da arquibancada quase centenária do Estádio João Chede estar
sob ameaça, mesmo que hipotética, há de se fazer cumprir a lei e manter
preservada a edificação. Como sabemos, não só de futebol o futebol vive, mas
também é, há incontáveis décadas, pretexto e fonte inspiradora para a
literatura.
Ótimo!!!
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