sexta-feira, 22 de abril de 2016

Uma homenagem à quase centenária arquibancada do Estádio João Chede: patrimônio arquitetônico do Estado

Em tempos recentes, quando corriam muitos boatos e poucos fatos sobre uma possível doação do Estádio Municipal para uma indústria construir ampliações de suas instalações, fui indagado sobre rumores de que a histórica arquibancada do Estádio João Chede estaria prestes a ser colocada abaixo. Vem na informação um comentário sobre a posse de tal propriedade pelo Ypiranga Futebol Clube. Confesso que já ouvi algo sobre o assunto há alguns anos, mas não me atrevo a fazer comentários, pois não conheço detalhes nem tampouco a veracidade das poucas informações. Sei que a arquibancada, em estilo arquitetônico inglês do início do século 20 é um bem registrado no livro tombo do patrimônio histórico do Estado do Paraná. Portanto, é um bem tombado, oficialmente destinado à preservação. Assim, não pode ser tombada, no sentido de levada ao chão, como insinuou meu mal informado informante.

Curioso, busquei na memória algum arquivo remoto. Porém, acredito que foi deletado, não sei se intencional ou acidentalmente. Encontrei alguns dados incompletos sobre uma partida de futebol dos primórdios do estádio em questão. Recorri à imaginação para traçar linha ficcionais sobre uma possível partida ali disputada.
Era um tempo em que um polaco grandão do Pinheiral de Baixo inflava o peito para dizer que nenhuma bola passava por ele jogando de goal keaper, um mulatinho ligeiro fazia e acontecia, com dribles desconcertantes e passes precisos, atuando como center half e um alemão grosso de doer orgulhava-se de fazer gols de cabeça na posição de center forward.
Coincidentemente, a tal partida, naquele tempo alcunhada como match, colocou frente a frente o time do polaco contra o time do mulatinho e do alemão. Ao que tudo indica, terminou em confusão generalizada. Por sinal, uma das maiores de todos os tempos do futebol mundial. Os registros não revelam os nomes das equipes, apenas que na etapa final, quando faltavam poucos minutos para o fim do prélio, o placar marcava 3 a 3 e o mulatinho fazia o carnaval driblando adversários de um lado para o outro quando foi violentamente atingido por um beque adversário, conhecido como Machadão. Foul quase frontal à grande área. Sem conter a dor, levantou-se gemendo, célere, viu que o alemão sinalizava e, com precisão, colocou a bola na cabeça do avante grandalhão, que só teve o trabalho para mandá-la para dentro da meta. Sem exceção, todos os adversários correram para reclamar de sua excelência o apitador a invalidação do gol. Porém, o referee, um sujeito bigodudo com cara de poucos amigos, incontinenti, apontou para a marca inicial de jogo, dando como válido o goal. “Gol legal!”, diria o speaker Mário Vianna – com dois enes – nos áureos tempos do rádio, nos anos 1950. E foi!
Após o desempate da peleja, não mais foi possível apreciar o jogo de football, entretanto, apenas e tão somente, um corre-corre e um chuta-chuta nunca antes vistos na história do futebol. Sobrou voadora e rabo-de-arraia para todo mundo. O goleiro polaco acertou com a mão espalmada – e que mão – a cara de um adversário que se atreveu a cruzar em sua frente. O golpe fez o matuto voar lá perto do tanque da A Madeireira. Mesmo o alemão autor do gol fugiu perseguido por uma turba ensandecida de torcedores do team adversário que o alcançou perto do Tiro de Guerra, atingindo-o na região glútea por vários quicks e bicudões. “Parrem de chutarrr meu punda”, implorava o germânico center forward em tom choroso.
O mulatinho que deu o passe para o gol, veloz e sagaz como era, desapareceu em desabalada carreira pela estrada do Mato Grosso após saltar como um gato e transpor, num único jump, os trilhos da estrada de ferro, nas proximidades da Estação Ferroviária. Dizem que nunca mais foi visto na cidade, pois teria ficado embrenhado no mato do Pugas por anos e anos, tomando para si a culpa pelos terríveis acontecimentos daquele domingo de pouco futebol e muita fuzarca, quando, literalmente “correu a ripa’.

A ficção ganha vida com o futebol e todas as suas histórias e lendas. Dado a riqueza cultural do nobre esporte bretão e o fato da arquibancada quase centenária do Estádio João Chede estar sob ameaça, mesmo que hipotética, há de se fazer cumprir a lei e manter preservada a edificação. Como sabemos, não só de futebol o futebol vive, mas também é, há incontáveis décadas, pretexto e fonte inspiradora para a literatura. 

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