Fundada no
dia 28 de agosto de 1910 por um grupo heterogêneo, do qual faziam parte
profissionais de diversos ofícios, a Sociedade Recreativa Beneficente
Palmeirense é hoje mais “retrato da parede” – como diz Carlos Drummond de
Andrade no poema que dedica à sua cidade natal, Itabirito. Saudade, lembrança,
memória de um tempo em que as pessoas conviviam. “E como dói”, para completar
com versos de um dos mais consagrados poetas brasileiros para exprimir os
sentimentos de quem viveu no salão daquele clube memoráveis bailes, saraus e
carnavais promovidos pela entidade e pelo Grêmio Magnólia, o braço feminino que
reunia mulheres e filhas de associados. Para quem não tem ideia da importância
do Beneficente para Palmeira, basta dizer que o dia 28 de agosto, durante anos,
era quase um feriado municipal.
Num tempo em
que não havia Previdência Social, as sociedades beneficentes funcionavam como
tal. O estatuto do Beneficente previa auxílios diversos para seus associados,
uma espécie de pecúlio para ocasiões de dificuldades enfrentadas pelos ‘segurados’.
As
comemorações de aniversário do Beneficente iniciavam às 6 horas do dia 28 de
agosto com um tiro disparado por um pequeno canhão, um sinal para os moradores
de Palmeira que a festa estava começando. Associados da entidade e seus
familiares, além de convidados, reuniam-se para um almoço de confraternização e
participavam de atividades durante toda a tarde, divertindo-se com jogos e brincadeiras.
À noite, o ponto culminante da programação festiva era o baile de gala, sempre
animado por uma orquestra ou banda, que, por força de contrato, na abertura do
baile, executava o Hino do Beneficente, composição do maestro palmeirense
Basílio de Sá Ribeiro. A partir disto os pares rodeavam o salão, dançando até
altas horas da madrugada ao som de valsas, boleros, marchas, ranchos e sambas.
O salão de
bailes do Beneficente com suas nove amplas janelas que davam para as ruas Padre
Camargo e Vicente Machado, ostentava um grande lustre central e quatro outros
menores. Mesas e cadeiras rodeavam o salão e acomodavam o público em bailes
sempre concorridos. Além do baile no dia do aniversário, outro grande evento no
Beneficente era o baile de réveillon, no dia 31 de dezembro, que só terminava
às primeiras horas da manhã do primeiro dia do ano novo. Os carnavais também
marcaram época no clube, com a animada participação de foliões fantasiados e
blocos, com muitos confetes e serpentinas lançados ao som de animadas
marchinhas.
Quando o dia
28 de agosto deixou de ser uma data de comemorações, a partir dos anos 1970, o
Beneficente ainda mantinha atividades recreativas, com alguns bailes e saraus
dançantes nas noites de sábado reunindo jovens para dançar ao som de pop e rock,
especialmente nos anos 1980, quando o Benê ganhou fama de lugar certo para diversão. Sim, os carnavais continuavam tão animados quanto
antes e em alguns anos aconteceram cinco bailes carnavalescos, de sexta-feira à
terça-feira de carnaval, além das matinês para as crianças e adolescentes.
Hoje, a
imagem que se tem do Beneficente são as paredes externas em ruínas, em uma
construção sem cobertura e tomada pelo mato em seu interior. Como sociedade já
não funciona há muitos anos, mas ainda é mantida no local uma cancha de bocha,
esporte bastante apreciado por uma geração de palmeirenses, mas que, por si,
não consegue reunir entusiasmo e disposição dos jogadores para buscar uma
retomada dos tempos áureos do Beneficente.
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