quarta-feira, 2 de março de 2016

Um naturalista francês chora em Palmeira com as palavras de Dona Querubina

O botânico francês Auguste de Saint-Hilaire viajou pela região em 1820, visitando diversos locais e colhendo impressões sobre os lugares e as pessoas em seus diários, cujos textos, depois, transformaram-se no livro “Viagens na Comarca de Curitiba em 1820”, com tradução do historiador David Carneiro. Em uma das passagens narradas pelo explorador, conta de uma conversa com a dona de uma pequena fazenda onde se hospedara, que era, nada mais nada menos, do que Querubina Rosa Marcondes de Sá, esposa de José Caetano de Oliveira, futuros baronesa e barão do Tibagi. Ela, quando viúva, ainda foi agraciada por Dom Pedro II com o título nobliárquico de viscondessa do Tibagi.


Saint-Hilaire havia chegado ao Rincão da Cidade, conforme relata, após percorrer três léguas desde a localidade de Santa Cruz. O naturalista narra que “era um pequena fazenda pertencente a gente de poucas posses e numerosa prole. A dona de casa me recebeu com extrema bondade”, descreve o cientista, fazendo menção ao primeiro contato com Querubina.

O naturalista trabalhava em seu quarto quando Querubina chegou e sentou-se á soleira da porta, de acordo com o que descreveu. A anfitriã pôs-se a conversar, indagando o viajante: “por que se põe assim a correr mundo? O senhor tem mãe. Por que não vai para junto dela consolá-la no fim de sua vida? Neste instante, ela, de certo, pensa no senhor. Enquanto eu gozo de todo o conforto na vida a meu filho talvez falte o necessário, e ela chora, de certo, pelo senhor. A senhora sua mãe não tem necessidade de vossa mercê, mas creia que uma mãe preferiria viver pobre no meio dos seus filhos, do que rica e separada deles”. Foi aí, segundo o que registrou Saint-Hilaire, que seu olhos encheram-se de lágrimas e ele pediu a Cherubina que não continuasse.

Como resultado da fala da anfitriã, o botânico francês observou em suas anotações: “Aquela que tão bem fazia valer os direitos de outra mãe devia ser boníssima mãe; ela terá, penso eu, a benção em seus filhos”.

Entre os filhos do casal que recebeu e hospedou Saint-Hilaire está Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, com certeza o mais ilustre palmeirense à época do Império, visto ter sido conselheiro do Imperador, ministro imperial da pasta da Agricultura e, ainda, presidente da Província do Paraná.


Dona Querubina, de acordo com o historiador Astrogildo de Freitas, em seu livro “Palmeira: reminiscências e tradições”, embora nascida na sede da fazenda da Palmeira e residisse nas imediações, possuía razoável instrução acima do saber ler e escrever. Era ela quem administrava a fazenda durante as longas ausências do marido, em viagens para compra e venda e condução de tropas de muares. Curioso é o registro de que ela viajara para as cidades de Sorocaba e São Paulo, que estavam, à época, entre as mais desenvolvidas e progressistas do Brasil Império.

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