O botânico francês Auguste de Saint-Hilaire viajou pela
região em 1820, visitando diversos locais e colhendo impressões sobre os
lugares e as pessoas em seus diários, cujos textos, depois, transformaram-se no
livro “Viagens na Comarca de Curitiba em 1820”, com tradução do historiador
David Carneiro. Em uma das passagens narradas pelo explorador, conta de uma
conversa com a dona de uma pequena fazenda onde se hospedara, que era, nada
mais nada menos, do que Querubina Rosa Marcondes de Sá, esposa de José Caetano
de Oliveira, futuros baronesa e barão do Tibagi. Ela, quando viúva, ainda foi
agraciada por Dom Pedro II com o título nobliárquico de viscondessa do Tibagi.
Saint-Hilaire havia chegado ao Rincão da Cidade, conforme
relata, após percorrer três léguas desde a localidade de Santa Cruz. O
naturalista narra que “era um pequena fazenda pertencente a gente de poucas
posses e numerosa prole. A dona de casa me recebeu com extrema bondade”,
descreve o cientista, fazendo menção ao primeiro contato com Querubina.
O naturalista trabalhava em seu quarto quando Querubina
chegou e sentou-se á soleira da porta, de acordo com o que descreveu. A
anfitriã pôs-se a conversar, indagando o viajante: “por que se põe assim a
correr mundo? O senhor tem mãe. Por que não vai para junto dela consolá-la no
fim de sua vida? Neste instante, ela, de certo, pensa no senhor. Enquanto eu
gozo de todo o conforto na vida a meu filho talvez falte o necessário, e ela
chora, de certo, pelo senhor. A senhora sua mãe não tem necessidade de vossa
mercê, mas creia que uma mãe preferiria viver pobre no meio dos seus filhos, do
que rica e separada deles”. Foi aí, segundo o que registrou Saint-Hilaire, que
seu olhos encheram-se de lágrimas e ele pediu a Cherubina que não continuasse.
Como resultado da fala da anfitriã, o botânico francês
observou em suas anotações: “Aquela que tão bem fazia valer os direitos de
outra mãe devia ser boníssima mãe; ela terá, penso eu, a benção em seus
filhos”.
Entre os filhos do casal que recebeu e hospedou Saint-Hilaire
está Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, com certeza o mais ilustre palmeirense
à época do Império, visto ter sido conselheiro do Imperador, ministro imperial
da pasta da Agricultura e, ainda, presidente da Província do Paraná.
Dona Querubina, de acordo com o historiador Astrogildo de
Freitas, em seu livro “Palmeira: reminiscências e tradições”, embora nascida na
sede da fazenda da Palmeira e residisse nas imediações, possuía razoável
instrução acima do saber ler e escrever. Era ela quem administrava a fazenda
durante as longas ausências do marido, em viagens para compra e venda e condução
de tropas de muares. Curioso é o registro de que ela viajara para as cidades de
Sorocaba e São Paulo, que estavam, à época, entre as mais desenvolvidas e
progressistas do Brasil Império.
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